domingo, 8 de janeiro de 2012

CRESCER

Tá aí uma coisa tão inevitável quanto a morte que nos aguarda.
Um processo deveras doloroso, confuso, reconfortante, instigante e excitante.
Crescer é esse acúmulo de antíteses que fazem da vida de todos nós um adorável desafio.
Confesso que esse é um processo que me assusta e contra o qual eu luto diariamente e arduamente.
Como tenho inveja de Peter Pan, gostaria de eu mesmo descobrir o caminho para a Terra do Nunca, e lá eu poderia permanecer para todo o sempre como a criança que sou em meu interior e que infelizmente tenho que reprimir em virtude do dia a dia e das agruras do mundo moderno.
Será que sou só eu ou vocês também tem saudades de um tempo onde brincávamos na rua das mais diversas brincadeiras e vivíamos intensamente cada segundo de nossas vidas. Um tempo onde os amigos eram palpáveis e não apenas “espectros virtuais”, tempo esse, cheio de texturas, aromas, cores e sabores.
Infelizmente essas coisas foram sendo arrancadas de nós gradativamente e substituídas paulatinamente por coisas bem menos divertidas como a rotina de trabalho, os filhos, as contas, e todas as responsabilidades que até outrora não tínhamos.
Ah! Que saudades de um tempo em que as minhas únicas responsabilidades eram ir bem na escola, fechar o gol no futebol de rua e estar em casa a tempo de assistir “Os Cavaleiros do Zodíaco”.
Lembro com carinho de todos os amigos que fiz, de todas as aventuras que vivi, de todos os jogos que participei e de todas as brincadeiras, sejam as que envolviam brinquedos de verdade ou aquelas que eram executadas apenas através da imaginação.
Na vida adulta todas as cores da minha infância foram sendo aos poucos substituídas por um cinza triste, os dias se arrastam ao sabor das responsabilidades, tudo é feito numa eterna luta contra o relógio. Corremos tanto para conquistar um tempo para nós e quando esse tempo vem, é à custa de muita correria e doação e simplesmente estamos cansados demais para desfrutá-lo da maneira como gostaríamos.
Na infância as horas não corriam, voavam e as brincadeiras só eram interrompidas pelo grito da mãe de alguém, que irrompia de dentro de alguma casa das redondezas ditando ordens como “Venha tomar banho”, “Já pra casa fazer sua lição” ou ainda “Venha jantar que já está tarde”. Era tanta diversão que sequer sentíamos fome.
Hoje em nossa constante luta contra o tempo mal sentimos o gosto da comida, que engolimos com indiferença durante o ínfimo horário de almoço.
Mas essa guerra contra o tempo não precisa ser uma guerra perdida, desde que passemos a cultivar e cativar a criança que existe dentro de cada um de nós, dando espaço para que de vez em quando ela possa sair daquela prisão insólita onde a colocamos assim que ficamos mais velhos, deixando-na bailar, imaginar, sonhar. Dessa forma, esse processo de crescer, de envelhecer, que é inexorável e aparentemente tão injusto acaba se tornando mais suave apenas se aprendermos a consolidar nossa maturidade e experiência de vida com a alegria e a energia de nossa tenra idade. E quando seu fardo lhe parecer muito pesado, e quando os dias parecerem rir-se do seu cansaço, dê-se ao luxo de parar por um momento e recuperar suas energias e esperanças no sorriso sincero e despreocupado de uma criança.

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