quinta-feira, 31 de maio de 2012

O dia em que as vadias marcharam


“O cara tem que ter pegada!”

Quantas vezes eu já não ouvi a frase acima sendo proferida por uma jovem incauta que aparentemente ainda não tem muita noção da profundidade da vida nesses tempos modernos.
Torno a dizer que o cara não tem que ter “pegada”, se a mulher está dizendo que essa é uma característica determinante, ela está se enquadrando na categoria de objeto e que não venha reclamar quando começar a ser tratada como tal.
O raciocínio é muito simples e não deixa margem para equívocos de interpretação: Você pega uma maçã, pega uma panela, pega um desodorante, pega um sapato, pega um travesseiro... Mulher não se pega, mulher se corteja, se conquista!
E agora vai ter muita garota me dizendo “Ah Diego, mas se eu exigir demais eu acabo ficando sozinha”.
E que mal há nisso? A pessoa só teme ficar sozinha quando detesta sua própria companhia, quando não se enxerga como alguém interessante. E é aí que eu pergunto se existe mais vantagem em viver em sua própria companhia ou em companhia de outra pessoa que também detesta só pra alegar que não está “sozinha”.
Aconteceu em Porto Alegre algumas semanas atrás a “Marcha das Vadias”, uma passeata em repúdio à violência doméstica e que apareceu aqui em São Paulo no ano passado.
A bem da verdade a “Marcha das Vadias” nasceu no ano passado, no Canadá, em forma de manifestação contra declarações que diziam que vítimas de estupro haviam provocado o crime por usarem roupas decotadas ou saias curtas... Enfim, roupas consideradas provocantes.
Aqui no Brasil o título da manifestação manteve-se original, traduzido do nome em inglês “Slutwalk”, porém no Brasil a manifestação foi ainda mais profunda e fez questão de abordar o tema da violência doméstica. Várias estatísticas apontam que esse é sim um assunto que deve ser tratado com seriedade nesse país, pois os índices de mulheres mortas vítimas de violência no próprio lar, seja de companheiro, marido ou namorado, já atingiu um nível alarmante, e aqui a passeata exige uma vigilância maior dos órgãos públicos e uma punição ainda mais severa para quem comete crimes de violência contra a mulher, crimes esses que só vieram à luz das discussões depois da incansável luta de Maria da Penha, que foi baleada pelo marido enquanto dormia e consequentemente acabou paralítica. Maria da Penha escreveu um livro sobre sua vida de maus tratos sofridos e lutou com firmeza para que esse tipo de crime não passasse mais impune e isso gerou uma comoção, e aos poucos as mulheres começaram a reagir e o número de denuncias aumentou sensivelmente. Estava declarada a guerra contra os abusos e violência.
E agora eu paro e penso: O que leva um macho – porque ser “homem” é completamente diferente de ser “macho” – crer que pode agredir sua mulher pelos motivos mais fúteis?
Uma camisa não lavada vira uma queimadura, um bife bem passado se transforma num tapa, uma calça amarrotada vira um soco ou coisa pior... Isso é impotência, falta de bagos. É um pobre diabo impotente que desistiu de estudar, tem um emprego medíocre, não gosta de si mesmo, é assediado pelo chefe e vê sua vida completamente desprovida de realizações e acaba descontando tudo naquilo que talvez seja a coisa mais preciosa que ele tem em sua vida miserável, a única coisa que talvez não pense que ele é o inútil que é, aquela pessoa que aceitou passar por dificuldades junto com o companheiro e muitas vezes sofre calada.
Mas é aí que giramos a moeda e enxergamos sua outra face:
Estava eu assistindo um programa na televisão essa semana que abordava esse tema e foi justamente o que acabou me deixando com vontade de escrever. No programa, várias mulheres foram abordadas nas ruas e interpeladas sobre a questão da violência contra a mulher. Para meu espanto a grande maioria simplesmente respondeu “Tem mulher que merece apanhar mesmo!”
E é por isso que esse país está indo à bancarrota, por causa desse desserviço que a própria sociedade presta contra si mesma.
Ninguém deve “apanhar mesmo”. Nem a mulher, nem os filhos (deixando claro que não me refiro aqui à palmadinha, falo de apanhar MESMO) e nem bichinho de estimação.
Por isso eu digo que as mulheres devem valorizar-se e não procurar um homem com “pegada” e sim um homem cortês, com respeito, porque aquele da pegada pode muito bem, mais cedo ou mais tarde, te “pegar” pelo braço e agir com violência.
O mundo está cheio de imediatismos, cheio de novas regras, mas alguns hábitos jamais devem ser deixados de lado e a educação e o respeito são alguns dos imutáveis.
E só pra finalizar quero deixar bem claro que quem ama não agride e o crápula não muda, não importa quantas vezes ele se arrependa e quantas vezes ele prometa que tudo vai ser diferente... Não vai.
Forte abraço e até a próxima, e não se esqueçam:
O MUNDO É TORTO, MAS A GENTE ENDIREITA! Ahhhhh se endireita!