terça-feira, 6 de março de 2012

Não mexa com meu videogame... Sério... NUNCA!



Hoje estou comemorando uma vitória da tão flagelada e adormecida democracia!

Acontece que tempos atrás um digníssimo senador Valdir Raupp veio com um projeto de lei que tinha como objetivo – e falo resumidamente – proibir a comercialização, importação, estocagem de qualquer game com conteúdo considerado “ofensivos aos costumes, às tradições dos povos, aos seus cultos, credos, religiões e símbolos”.

Essas considerações ficariam a cargo de um restrito grupo que avaliaria os jogos e decidiria acerca de seu conteúdo e se este poderia ser liberado para comercialização.

Ou seja: O governo seria responsável por escolher e permitir o seu entretenimento baseado num critério que duvido que fosse chegar ao nosso conhecimento, ou você também não acha essa descrição do que é “ofensivo aos costumes e tradições” um conceito muito vago e extremamente abrangente? Visto que todos os jogos possui um conteúdo místico, violento ou ainda fantasioso eu acho que nos restaria apenas os jogos da Barbie, e olha lá, uma vez que quando vamos trocar as roupinhas da Barbie e a boneca aparece nua na tela até que outra peça seja adicionada.

Um jogo sobre mitologia grega, por exemplo, não seria aprovado se um ou mais dos integrantes dessa banca fossem evangélicos, uma vez que a religião abomina esse tipo de cultura e tem como “falsos deuses” e “obra do Diabo”. De que nos serviriam os jogos senão para extravasar nossas frustrações, ou até mesmo aliviar o estresse do dia a dia. Nada como chegar de um cansativo dia de trabalho, depois de passar horas aguentando aquele colega chato e sem o mínimo respeito por seu espaço, e metralhar uns e outros em algum jogo. O videogame nos dá o que a realidade nos nega, coisa que antes só poderíamos obter através de nossos sonhos... E vamos concordar: Com a correria do dia a dia sequer temos tempo para sonhar, nosso sono é reparador e compensador por toda a energia desprendida em um mundo que exige demais de nós, portanto vamos nos dar a oportunidade de fazer o impossível e se os jogos são as ferramentas pelas quais muitos atingem essa façanha porque censurá-los? Violência não pode ser contraída. A violência é alimentada quando a educação não faz seu devido trabalho. Uma presença materna e paterna na tenra infância não deixa espaços vazios e negros a serem preenchidos pela violência e, de qualquer forma, a violência encontra muitas outras válvulas de escape. Quantos criminosos gamers já foram confessos? E quantos delinquentes já não feriram e mataram durante uma partida de futebol? Vamos proibir o futebol! Má que... O Brasil iria à falência não é mesmo???

Acho engraçado vira e mexe surge uma lei com foco na censura dos games, justamente porque não vemos esse mesmo rigor e essa mesma preocupação por parte dos parlamentares acerca da televisão e aqui eu cito em letras maiúsculas a REDE GLOBO DE TELEVISÃO e seu conteúdo extremamente ofensivo, com teor sexual, linguagem imprópria e total inversão de valores. Todos os defensores da moral e dos bons costumes que eu conheço, sejam eles defensores de preceitos embasados em sua própria religião, são fiéis seguidores de novelas, Big Brother e toda sorte de programa sensacionalista e agora eu pergunto: Com que moral uma pessoa que assiste a uma programação que gira em torno de um estupro que hora vem à tona, hora é desmentido pode arbitrar sobre moral e bons costumes? Outra coisa que corrobora, e muito, para essa perseguição às diversões eletrônicas é que o Brasil infelizmente ainda não sabe o verdadeiro valor de mercado que marcas como Ubisoft, EA Games e Square Enix agregam. Hoje em dias os jogos movimentam mais dinheiro do que o cinema, por exemplo, e suas franquias são vendidas como água, tornando-se todo tipo de produto imaginável.

O Brasil é um país extremamente criativo e poderia muito bem tirar proveito disso criando uma lei de incentivo aos pequenos estúdios independentes de programação de games que já estão conseguindo uma boa colocação ao menos no mercado de jogos para celular, por exemplo.

Vale a pena ressaltar que grandes empresas de jogos no exterior possuem brasileiros trabalhando em suas programações, desenvolvimento e criação de design de personagens. Mentes essas que não são aproveitadas aqui, tudo porque o Brasil ainda possui uma mente extremamente retrógrada no que diz respeito à tecnologia.

Comemoro o fato de que há duas semanas o próprio senador e autor da lei retirava da bancada o projeto, graças às manifestações de gamers do Brasil inteiro que souberam consolidar suas forças de modo que a voz dessa classe tão desprestigiada foi ouvida lá em Brasília!

Fico feliz por enxergar ainda um ralo brilho de democracia nesse país que outrora já foi capaz de vencer o sistema, extinguir um regime militar e desempossar um presidente.

Sei que outras leis virão e que apenas vencemos a batalha, mas a guerra é longa e árdua. A guerra por respeito, a guerra por inclusão, a guerra por compreensão.

Espero que esse frenesi que vemos por parte de deputados e senadores em interferir na cultura que decidimos consumir mude de foco e passe a perseguir interesses que realmente importam e de que nosso povo tanto carece.

Sei que parece demagogia falar, mas espero esse mesmo empenho que levou os gamers a unirem-se em prol de defender uma causa e lutar por seus direitos possa também unir a todos como cidadãos conscientes, para que possamos juntos lutar pelo que realmente importa e cobrar daqueles que elegemos nas áreas que realmente exigem atenção.

Fica aí meu apelo! Forte abraço e até a próxima!

Foi assim que o Vegeta ficou quando ouviu dizer que iriam proibir seus jogos...

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