quinta-feira, 30 de outubro de 2014

No meu tempo...




Pois é. Chegamos a mais uma postagem do nosso blog Mundo Torto, que depois das eleições tem tudo pra ficar mais torto ainda, torto e capenga.
Aliás, eu até ia escrever algo sobre o tema, mas o combate nas redes sociais está tão ferrenho que resolvi depor minhas armas e esperar a poeira baixar e foi hoje, com a mente vagante e divagante que comecei a perceber essa frase me martelando a tepora.
Mas calma lá! Meu avô dizia isso e ele tinha mais de sessenta anos quando Deus precisou de um goleiro pro seu time e chamou o “Vô Gordo” de volta. Então... O que é que essa frase fazia martelando na minha mente relaxada de rapaz de 30 anos?
E sim, vou usar o termo rapaz porque simplesmente o avanço do tempo transformou todos nós. Minha mãe foi mãe aos 19 anos, minha vó materna casou-se aos 15 anos. Naquele tempo era assim, as mulheres viravam mulheres muito cedo, os homens amadureciam muito antes e já eram arrimos de família...
Naquele tempo...
Todo mundo sabe que não é mais isso que acontece, claro, em casos extraordinários, em comunidades mais pobres, entre pessoas menos “orientadas” por assim dizer ainda acontece, mas quero falar da minha realidade e da realidade da maioria que vai ler esse texto.
Hoje sabemos que sem estudo não chegamos à lugar algum e que as exigências são cada vez maiores entre as profissões.
Antes era possível ter um emprego satisfatório com apenas o colegial, depois surgiu a necessidade dos cursos técnicos e profissionalizantes, depois já era inviável sair para o mercado de trabalho sem um curso superior, começaram as exigências para que soubéssemos uma segunda língua, depois a fluência, depois o mestrado, a pós, o M. B. A, o C. D. B, R. D. B, S. W. A. T e o F. B. I., talvez a C. I. A.
Um mar de siglas, conhecimento, diplomas, carreiras... Escolhas.
Mas faço essa comparação com o tempo dos meus avós, meus pais... Já sou contemporâneo de tudo isso, da tecnologia, da virada do milênio.
Costumo dizer que a minha geração seria, talvez a mais privilegiada de todas. Um encontro entre o velho e o novo, o nostálgico e o empolgante. A geração que viu um presidente ser destituído pela vontade do povo (Deus queira que agora reveja tal fato), uma geração que sobreviveu ao fim do mundo por duas vezes, contrariando Nostradamus e os Maias.
A geração que viu desabrochar a consciência ecológica – talvez tardia - para conter o consumo desenfreado de recursos naturais, a mesma geração que viu duas trocas de Papa, o primeiro presidente Negro, a primeira presidente. O nascimento e morte de tantos gênios e ícones, os verdadeiros avanços da era digital...
Mas que também viu muita coisa ruim como a artificialização das relações sociais e das amizades, as segregações premeditadas para controle político e uso das massas, o terrorismo, os desastres naturais como o Tsunami e o Katrina, a alienação dos jovens em função da mesma tecnologia tão comemorada em todos os seus avanços, a perda de autoridade por parte dos pais, a perda da segurança, da inocência, jovens já formatados como pequenos adultos em sua tenra infância...
Isso tudo é muito desastroso para nossa humanidade. Humanidade que vem presenciando, protagonizando e se reconstruindo constantemente de holocaustos e tragédias causadas por ela mesma.
E no meu tempo? Aquele tempo que falava no início desse texto?
No meu tempo a maioria não estava preocupada com colesterol, para sorte do dono da cantina. No meu tempo as amizades eram presenciais e não apenas algumas palavras ditas – muitas vezes com má vontade – através de uma tela fria de monitor.
Na minha época os amigos batiam no portão de casa, com a bola debaixo do braço e uma camiseta surrada, sem os pudores e ditaduras da moda e depois, nas noites quentes, sentávamos todos na calçada daquele que tinha os pais mais zens, que não reclamariam do burburinho e das risadas e conversávamos, paquerávamos, talvez embalado ao som de um violão, caso alguém da turminha arriscasse uns acordes, mas completamente despidos de preconceitos e pré-julgamentos.
Uma época em que não havia celular, mas havia confiança e meus pais sabiam exatamente onde eu estava com quem e até que horas.
Era uma época quase selvagem onde bastava um grito da minha mãe para me por pra dentro de casa e direto pra cama, uma época insegura onde tomávamos chuva, não porque o carro estava no conserto ou porque a bolsa caiu e decolou com os preços da gasolina. Andávamos na chuva por prazer e, caso a gripe nos sondasse éramos curados com chás e xaropes feitos à base de gengibre, frutas e mel. O único amargo em nossa vida era a hora do mertiolate e talvez a idade do coração partido.
Época em que se ganhasse algo de meus pais era um presente e não uma exigência e deveríamos fazer por merecer cada mimo que ganhávamos no Natal ou nos aniversários.
Época em que obediência não era negociável e que tínhamos responsabilidade e disciplina quase militares, caso contrário os castigos era exemplares, tanto os físicos – sim, criança apanhava – quanto os psicológicos: “Uma semana sem televisão!”... Quem nunca?
30 anos, o que eu sei da vida? Parece tão pouco, parece que foi ontem... Mas não se enganem. Tudo isso aconteceu... NO MEU TEMPO!


MUNDO TORTO de volta no role com força total! Curta, comente, participe, sugira novos temas e compartilhe nossas ideias. E o bordão vocês já sabem né?
O mundo é torto, mas juntinhos, eu e vocês... A gente endireita!
Forte abraço e até próxima!!!

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